sábado, 4 de abril de 2009

Começa com S

Quando cheguei e me olhei no espelho, não consegui me ver. Não era por causa da bebida. Fiquei longos segundos me encarando, sem reconhecimento. Acho que se me dessem as fotos dos suspeitos, eu não saberia apontar. Meu rosto não sou eu, muito menos meu nome. E o que sobra pra eu ser? Sobra o que ninguém vê. Hoje eu já me assumo, como cúmplice de mim mesma nessa empreitada que chamam de vida. Eu já me assumo porque quem é que vai se assumir por mim? Porque se eu não assumir, é melhor sumir e esquecer toda essa palhaçada. Hoje eu já não transformo em preto e branco. Hoje eu já escrevo em primeira pessoa e saio falando sinceridades noite afora. É curioso perceber o quanto sou mais eu quando não há pensamentos racionais envolvidos, quando a única coisa que há é o labirinto. Sou eu perdida dentro de mim mesma. Mas eu me apego e adoro estar comigo. Porque é comigo que eu sei ser eu, sem pensar, sem poses, sem se importar com os outros. Ah, os outros... E ontem, eu chorei com um desconhecido. Chorei com a sinceridade que me alcançou no fim da festa e com a realidade que ele me mostrava. Às vezes acho que eu não sei viver. E não sei mesmo. O caminho de saída do labirinto não está no outro, eu preciso aprender. Só que eu nunca fui boa nessa de encontrar uma saída... Eu vou entrando e nunca saio, de verdade. A porta fica sempre aberta e o que sai da sala, inevitavelmente, me atinge. E eu deixo atingir. Meu coração não é de pedra.

"O que eu sinto eu não ajo.
O que ajo não penso.
O que penso não sinto.
Do que sei sou ignorante.
Do que sinto não ignoro.
Não me entendo e ajo como se me entendesse."
Clarice.

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