Algum dia ainda vejo o céu sangrar. E quem vai meter o punhal será o herói, todo de capa de cetim e bota preta de camurça. Vai puxar, com toda calma e medo, e enfiar bem no meio do céu, deixando jorrar o azul pra sujar toda a capa. Então ele vai se descalçar das botas, vai molhar os pés no laranja, vai tomar cuidado pra não se espetar com as estrelas. Vai se lembrar dos segundos atrás em que ele foi herói e vai sorrir. Vai sorrir porque foi herói pra si; essa coisa de salvar criancinhas de incêndio nunca foi sua praia. Vai sorrir porque foi herói pra todo o mundo dentro de si. E no meio do sangue violeta que jorrou do bucho do céu, ele vai procurar o punhal e vai se fazer de relicário, guardando o punhal em si. Guardando-o pra todo o mundo dentro dele. Porque passa, ele passa, sempre passa. Passa-homem, herói-passante.
- Tem uma hora que o sangue estanca;
Estanca, encanta, escantado. Em canto, descascado. Já passou.
sexta-feira, 13 de março de 2009
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Um comentário:
Se não foi vilão pra ninguém, nem pra si mesmo e nem pra outrem (às vezes nem pro próprio céu), já era herói de nascença.
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