domingo, 28 de outubro de 2007
De que cheiro é?
A criança calçando o sapato alto da mãe: era ridícula. Ridícula de. De quê? De não viver.
E ao acordar, queria recriar e criar e pintar e repintar.
Que cheiro teria a vida? Que gosto seria?
- Criança, tua mãe não te contou? O cheiro e o gosto são tu. Cala-te, apaga a pintura, some: tu te bastas; e só tu do mundo, e o mundo só teu.
Foi - e explodiu como supernova.
domingo, 21 de outubro de 2007
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quarta-feira, 17 de outubro de 2007
Que isso?
Estou fadada a sangrar, e sabes, amor, nem quero mais.
E se sangrasse, seria pra longe.
Sangraria pra longe de mim, pra outra metade.
E alguém enxergaria aquilo como sangue?
Preto, preto, preto não é sangue.
Quero amputar essa minha parte deficiente.
Essa parte que me, me, me.
E nem a pata de elefante eu sinto mais...
Até parece que é vida-morte.
Só hoje morri quinze vezes, acreditas?
Ou pra mais disso, não contei.
Mas morri e morri de novo.
E nem dói, sabias?
Nem sentes.
Olhos, teus olhos, nem sentiriam.
Eu me evaporaria em frente a eles e nem notarias.
Nem lembrarias algum dia dos meus, os meus olhos.
A mais tênue lembrança seria tomada como sonho.
Pois agora quem não existe sou eu.
E nessa minha não-existência, vou não-sendo até a eternidade.
Como suportas ser tão?
E de tão, me fascinas.
sábado, 6 de outubro de 2007
De podridão e salvação.
Hoje vomitei dor. Me passei perfume para disfarçar e escovei os dentes para tirar o gosto.
Disfarçar o que? De quem? Pois já não sei que não sou minha? Que independo de mim mesma?
Não tenho mais nome, a partir dessa noite.
E meu maior medo é acordar (o) amanhã.
quinta-feira, 4 de outubro de 2007
Título >Aqui<
A imprevisibilidade é a coisa pela qual mais espero. Preciso constantemente me lembrar de esperá-la com um escudo, ou então com pés bem fincados, pra não cair. Se bobagens me arrebatam, que dirá coisas de certa importância? Ou talvez as bobagens me abalem mais que coisas de real substância. Me desconheço.
Porque precisa ser tudo meu e para mim. E da onde vem tudo isso? A psicologia explica? Ausência, vazio, um nome. Nenhuma dessas palavras classifica o que tem impregnado em mim, como breu em lençol branco. É minha prodridão e minha salvação. E adoro.
Mas se me desconheço, como posso ser vício de mim mesma? A verdade é que não me desconheço, apenas não me sei completamente. Pois uma alma é vasta, e nas portas mais longes dos quartos mais distantes se esconde a imprevisibilidade.
É quando vem a ânsia. A angústia. Me falta a respiração. Me falta a respiração pela vontade de não ser, de não saber. Deve ser pela insignificância da minha vida diante de tudo. Tudo tão grande, os outros tão maiores, tudo tão distante e irreal. Bem aí! Me misturando de novo. Sinto o coração pular, e nem sei bem porquê. Deve ser o preto escorrendo e corroendo.