Não aguento mais esse barulho de construção. Um novo Shopping na cidade. Mais uma máquina de escravidão.
Não aguento mais esse apartamento enorme e vazio. Todas essas portas e janelas olhando pra mim. Todo esse mundo lá fora olhando pra mim.
Não creio que eu possa ser eu pra sempre.
Não aguento mais o relógio apitando no meio da noite. Minha falta de vontade em acordar, levantar da cama.
Não aguento mais ir dormir com as mesmas esperanças que acordei. E pra quê?
Creio que preciso de uma dose do inusitado.
quinta-feira, 30 de abril de 2009
quarta-feira, 22 de abril de 2009
terça-feira, 21 de abril de 2009
speak to me only with your eyes
25/02/09
Eu lembro que tinha planejado te vestir com aquela blusa branca e um casaco marrom. Lembro que planejei isso no dia em que tu compraste aquele xampu com cheiro de flor, porque "queria que o meu cabelo cheirasse como o teu". Eu planejei jogar fora o xampu e todas as tuas roupas do armário. Planejei onde eu estaria daqui a cinco anos e o que restaria de nós depois do fim. Planejei sem pensar, instintivamente, o lugar em que eu iria morar e a saudade que tu ias sentir de mim. Planejei a raça do gato e a cor do sofá, até a foto em cima da mesa eu planejei. Planejei ser bem feliz assim, de dar raiva, mesmo que eu soubesse que o primeiro a sentir raiva seria eu. E eu fui planejando, te planejei toda. Um verdadeiro esquema estratégico pra tudo. Tinha me viciado nessa muito antes do que pude perceber. E esqueci. Acontece que eu esqueci que tu não sabias dos meus planos, muito menos do que seria se não houvessem planos. Esqueci da liberdade que a gente tem. (Tem mesmo?) Esqueci que a vida toda só acontece de verdade quando a gente não planeja nada. Tem pessoas que se perguntam por quê, mas eu acho desperdício. Sabe, eu te escrevo isso porque sentei aqui e decidi não planejar mais nada. Então, esquece todos os planos que eu secretamente fiz pra mim, pra ti, pra casa, pra saudade. Eu decidi viver mais. Agora meus amigos falam que eu não sou mais calado. Porque mesmo em silêncio, eu me comunico.
Eu lembro que tinha planejado te vestir com aquela blusa branca e um casaco marrom. Lembro que planejei isso no dia em que tu compraste aquele xampu com cheiro de flor, porque "queria que o meu cabelo cheirasse como o teu". Eu planejei jogar fora o xampu e todas as tuas roupas do armário. Planejei onde eu estaria daqui a cinco anos e o que restaria de nós depois do fim. Planejei sem pensar, instintivamente, o lugar em que eu iria morar e a saudade que tu ias sentir de mim. Planejei a raça do gato e a cor do sofá, até a foto em cima da mesa eu planejei. Planejei ser bem feliz assim, de dar raiva, mesmo que eu soubesse que o primeiro a sentir raiva seria eu. E eu fui planejando, te planejei toda. Um verdadeiro esquema estratégico pra tudo. Tinha me viciado nessa muito antes do que pude perceber. E esqueci. Acontece que eu esqueci que tu não sabias dos meus planos, muito menos do que seria se não houvessem planos. Esqueci da liberdade que a gente tem. (Tem mesmo?) Esqueci que a vida toda só acontece de verdade quando a gente não planeja nada. Tem pessoas que se perguntam por quê, mas eu acho desperdício. Sabe, eu te escrevo isso porque sentei aqui e decidi não planejar mais nada. Então, esquece todos os planos que eu secretamente fiz pra mim, pra ti, pra casa, pra saudade. Eu decidi viver mais. Agora meus amigos falam que eu não sou mais calado. Porque mesmo em silêncio, eu me comunico.
daí eu sinto uma ânsia de dizer qualquer coisa só pra sair tudo de mim sair de mim um pouco como se vomitasse como se um texto fosse vômito como se me salvasse e eu entendo que talvez seja ânsia de liberdade porque não sou livre eu sou uma prisão em mim mesma isso sim e quero esquecer das emoções da esperança de esperar alguma coisa qualquer coisa da mudança de esperar e esperar
de repente eu não quero mais saber eu sinto falta de mim sinto falta de viver pra dentro sinto muita falta não quero mais sair nem beber nem ver ninguém nem ouvir quero viver nessa prisão encarcerada naquilo que eu chamo de porto minha solidão é meu porto e é difícil largar é difícil dividir esquecer a solidão
é difícil encontrar alguém que aceite a tua solidão e te deixe ser assim como que só de te olhar já soubesse tudo o que nem tu sabes que viagem isso não existe eu queria dar um basta
a gente sempre espera porque acho que é o que ser gente é
e daí ficamos todos inquietos e fazemos nascer coisas dentro e fora de nós nasce tudo e matamos depois como castelos de areia construir as fantasias e depois demoli-las isso cansa isso gasta isso derrota isso marca isso sou eu não quero mais mas isso existe e o que eu tenho feito é falado tenho quebrado o silêncio dentro de mim porque sou inquieta porque não aguento mais esperar
e deu certo as coisas acontecem aconteceram estão acontecendo mas agora não sei o que fazer com essas coisas todas quer saber acho que meu porto se perdeu
de repente eu não quero mais saber eu sinto falta de mim sinto falta de viver pra dentro sinto muita falta não quero mais sair nem beber nem ver ninguém nem ouvir quero viver nessa prisão encarcerada naquilo que eu chamo de porto minha solidão é meu porto e é difícil largar é difícil dividir esquecer a solidão
é difícil encontrar alguém que aceite a tua solidão e te deixe ser assim como que só de te olhar já soubesse tudo o que nem tu sabes que viagem isso não existe eu queria dar um basta
a gente sempre espera porque acho que é o que ser gente é
e daí ficamos todos inquietos e fazemos nascer coisas dentro e fora de nós nasce tudo e matamos depois como castelos de areia construir as fantasias e depois demoli-las isso cansa isso gasta isso derrota isso marca isso sou eu não quero mais mas isso existe e o que eu tenho feito é falado tenho quebrado o silêncio dentro de mim porque sou inquieta porque não aguento mais esperar
e deu certo as coisas acontecem aconteceram estão acontecendo mas agora não sei o que fazer com essas coisas todas quer saber acho que meu porto se perdeu
sábado, 4 de abril de 2009
Começa com S
Quando cheguei e me olhei no espelho, não consegui me ver. Não era por causa da bebida. Fiquei longos segundos me encarando, sem reconhecimento. Acho que se me dessem as fotos dos suspeitos, eu não saberia apontar. Meu rosto não sou eu, muito menos meu nome. E o que sobra pra eu ser? Sobra o que ninguém vê. Hoje eu já me assumo, como cúmplice de mim mesma nessa empreitada que chamam de vida. Eu já me assumo porque quem é que vai se assumir por mim? Porque se eu não assumir, é melhor sumir e esquecer toda essa palhaçada. Hoje eu já não transformo em preto e branco. Hoje eu já escrevo em primeira pessoa e saio falando sinceridades noite afora. É curioso perceber o quanto sou mais eu quando não há pensamentos racionais envolvidos, quando a única coisa que há é o labirinto. Sou eu perdida dentro de mim mesma. Mas eu me apego e adoro estar comigo. Porque é comigo que eu sei ser eu, sem pensar, sem poses, sem se importar com os outros. Ah, os outros... E ontem, eu chorei com um desconhecido. Chorei com a sinceridade que me alcançou no fim da festa e com a realidade que ele me mostrava. Às vezes acho que eu não sei viver. E não sei mesmo. O caminho de saída do labirinto não está no outro, eu preciso aprender. Só que eu nunca fui boa nessa de encontrar uma saída... Eu vou entrando e nunca saio, de verdade. A porta fica sempre aberta e o que sai da sala, inevitavelmente, me atinge. E eu deixo atingir. Meu coração não é de pedra.
"O que eu sinto eu não ajo.
O que ajo não penso.
O que penso não sinto.
Do que sei sou ignorante.
Do que sinto não ignoro.
Não me entendo e ajo como se me entendesse."
Clarice.
Assinar:
Postagens (Atom)