Não era ela: era seu pulmão. Era ele que se expandia na agonia de sentir o ar da lembrança dele.
Mas que inutilidade de pulmão! Queria poder sentir o cheiro todo de uma vez. Sentir agora, de uma vez só, para fazer o cheiro morar dentro dela e não mais no velho colchão em que costumavam deitar.
Virou-se de lado na cama para sentir a lembrança do ar quente que a respiração dele produzia em sua nuca. E tentou se lembrar da mão que costumava repousar em sua cintura.
Fazia isso todos os dias. Esperando inutilmente que, de algum modo, as lembranças dos sentidos se tornassem os próprios sentidos, para que, finalmente, ele morasse nela. Para que, finalmente, quando ela soprasse, fosse o sopro dele em sua nuca nos dias ensolarados; quando tocasse, fosse o leve toque de suas mãos repousadas no seu corpo; quando sorrisse, fosse pelas cócegas que os cabelos compridos dele lhe faziam no pescoço.
Pois ela não sabia ser uma casa vazia.
quinta-feira, 5 de junho de 2008
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