domingo, 23 de dezembro de 2007

sobre o agora

O pior em crescer não é a responsabilidade, que aumenta, ou a alegria, que diminui (de acordo com meus modelos). O pior é que quanto mais velho você fica, mais você se dá conta de si mesmo. Mais pesado fica, e mais pesa pros outros. E os outros pesam pra você.
O esclarecimento é a maldição. Pior é crescer e os outros ainda te terem como aquela criança, imutável. Mas você mudou, e tudo mudou com você. E tudo se resume a uma questão: como carregar o peso da vida que agora se esclarece?
Não ensinam isso na escola, a família nunca fala disso. Temos que descobrir sozinhos, como em algum ritual de passagem? E se for pesado demais?
Tem aquele exato momento. O exato momento é aonde tudo se define, como nos filmes. Já perto do final tem um momento em que o protagonista bola um plano, na hora certa, pra se salvar: o exato momento. Se ele não tivesse se resolvido naquele minuto, provavelmente teria morrido nas mãos do vilão.
Então é o exato momento que se esclarece agora. Algum grito da natureza que acelera o relógio biológico: não temos mais tempo. E o tempo passa, sem parar. Sem parar. É algo angustiante, de verdade. Até que chega um momento em que você para de lutar: a água é fria demais, seus braços estão cansados, o peso da roupa te puxa pra baixo... Por que não?

Acho que todos nós deveríamos ter cães-guia.

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