quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

Do tremor só sabia que fazia bem. Em sua simplicidade, adorava os arrepios. Às vezes tomava banhos frios de madrugada só para sentir. Tremer.
Lembra-se constantemente da vez em que foi assaltada, da arma apontada em sua boca e, ah!, do tremor. Como um vício, como o frasco cheio de uísque debaixo do paletó: corria àquilo por não ter onde se agarrar; e se entorpecia.
Pois o tremor era o oposto daquilo que faltava e que a assombrava. Ou seria consequência?
Só sabia que era sobrenatural, lhe dava arrepios. No frio, no medo, na ânsia, de dor: tremia.
O tremor afastava o espião. Afastava
a presença da mão do abraço em suas costas, abraço esse que já havia acabado, que nunca havia recebido. Mas, ah, a vida girava em torno daquilo. Daquelas mãos fantasmas, do peso, da garganta cortada.
Tremer era sua salvação. Era sua única chance de sentir seu sangue, seu pulmão. Única chance de ser toda vísceras. De se lembrar como é sentir. De tentar se lembrar como é sentir. De esquecer o que era o desejo
pulsante de continuamente desejar a vida.


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