- Hm. - em tom distraído, sob a concentração máxima pra não dormir no volante e com o vidro abaixado pra gelar os olhos e apagar mais aquele gasto desnecessário de dinheiro.
- Escuta, eu não quero que a gente se torne Laura e Mateus. Nem Mateus e Laura. Pra quando perguntem: "Que Laura?", respondam: "A do Mateus". Ou pra quando perguntem: "Que Mateus?", respondam: "O da Laura". Porra, eu sou eu e tu és tu, sabe.
- Por quê esse medo de que a gente se confunda, se mescle, vire um?
- É que eu sou muito minha ainda pra conseguir me dividir assim, explicitamente. E digo explicitamente porque eu me divido implicitamente contigo. Divido meu silêncio e a minha solidão, e isso é o máximo de si que se pode dividir. Implicitamente falando.
...
- Os outros só não podem saber disso, né? - e riu, debochando. - Acabaria com essa tua ilusão de independente-num-mundo-só-meu-que-só-eu-entendo. E aí, acabaria com a gente.
- É. Mas sem essa merda clichê de um mundo só meu. Até parece...
- Mas, porra, é um mundo só teu mesmo. Tu és só tua de um jeito que só tu podes ser. Mesmo. Não dá pra fugir do clichê.
- Não dá pra fugir de ser a Laura do Mateus. Merda. - em um sorriso que ele não precisava olhar pra saber que estava ali.