terça-feira, 28 de julho de 2009

Relíquia

A água fria na madrugada que levemente me leva a um sorriso de paz: estou viva. O beijo do animal e seu olhar cândido, sua curiosidade assustada a qualquer movimento meu: estou viva. A brisa que entra leve, me acaricia: estou viva. Os agudos ao longe de morcegos e apitos: estou viva. O barulho ao lado de quem dorme, em sono profundo acompanhado depois de anos, em sono tranquilo de paciência: estou viva. O engasgo, os deliciosos barulhos da madrugada, a bebida fora de horário: estou viva. A sensação, ser livre é uma sensação. É o mais perto de estar viva, se sentir livre e vice-versa. Jovem, presente, viva: aqui, eu. Diferente das pontas dos meus cabelos, não desboto. Diferente de antes. Sou colorida. Sou. Entro em contato com uma, duas belezas. Todas as suas profundidades, as mesmas que em mim não enxergo. É então que sinto. E sinto mais do que nunca que a vida em mim... a vida em mim é linda.

terça-feira, 14 de julho de 2009

Desentrelaço

Não vou me enganar. Isso que eu crio agora, uma crença secreta que não te deixa morrer em mim, não é pra enganar. A verdade é que foi muito estranho como nasceste, viveste e morreste, tudo aqui, em mim. Depois que passou, que eu parei, que tudo se aquietou e eu sosseguei, de repente senti que ali ainda não era o fim.
Não vou me enganar. Nada disso é busca por final feliz. Mas é que eu sinto, daqueles sentimentos que são saber; então, eu sei. É estranho, sempre estranho, muito estranho. Não falo, não toco, não ouço, nem nunca mais vejo: um nada em mim. Mas mesmo um nada ainda é alguma coisa.
Não vou me enganar. Porque é engraçado, tudo muito engraçado. Por que essas coisas acontecem? Eu queria poder esclarecer contigo. Voltar um pouco, não sei. A verdade é que passaste mas isso que aconteceu ainda me atormenta um pouco. Muito. É por isso que sei, de estranho a engraçado, um dia nos esclareceremos.
Não vou me enganar. As coisas só existem pra mim. Eu não deveria falar sobre isso, sabe? Mas eu me importo, porque mesmo um nada, em mim, ainda é muito. Engraçado porque se algum dia eu falasse, sinceridade a postos, mas quando... tu ias me achar doida. Olha, se bem que eu sou, tem gente que acha, eu não duvido.
Não vou me enganar. Eu sei. E é esse nada atormentado que me leva a querer saber se tu também sabes. É o nó desatando... Sempre em silêncio, claro. Sempre pra mim, claro. Calculista assim.

Outros, de 17


Na minha memória de infância era tudo tão bonito feito filme de Hollywood. Deixa quieto, então. Pra quê perturbar-se com o passado? Deixa quieto que o tempo sabe o que faz. Deixa
quieto que o tempo sabe que me faz. E eu sei que o negócio mesmo só eu comigo e mais ninguém resolve.